Quem sou eu

Minha foto
RIBEIRÃO PRETO, SP, Brazil
O grande mestre não ensina Amplia os horizontes dos seus alunos Num aprendizado constante Nildo Lage

CONSERVAÇÃO DE SOLO

CONSERVAÇÃO DE SOLO
Prof. Erico Sengik .´. 2005
  1. FATORES QUE AFETAM A EROSÃO
A erosão é causada por forças ativas, como as características da chuva, a declividade e comprimento do declive do terreno e a capacidade que tem o solo de absorver água, e por forças passivas, como a resistência que exerce o solo à ação erosiva da água e a densidade da cobertura vegetal.
A água da chuva exerce sua ação erosiva sobre o solo pelo impacto das gotas, que caem com velocidade e energia variáveis, dependendo do seu diâmetro, e pelo escorrimento da enxurrada.
O volume e a velocidade da enxurrada variam com a chuva, com a declividade e comprimento do declive do terreno e com a capacidade do solo em absorver mais ou menos água.
A resistência que o solo exerce a ação erosiva da água está determinada por diversas de suas características ou propriedades físicas e químicas, e pela natureza e quantidade do seu revestimento vegetal.
Para encontrar soluções adequadas ao problema da erosão, é necessária a inter-relação dos fatores contribuinte, pois, ainda que alguns não se possam modificar diretamente, todos podem ser controlados, compreendendo-se bem a forma como atuam.
    1. CHUVA
A chuva é um dos fatores climáticos de maior importância na erosão dos solos. O volume e a velocidade da enxurrada dependem da intensidade, duração e freqüência da chuva. A intensidade é o fator pluviométrico mais importante na erosão.
Dados de chuva em totais ou médias mensais e anuais pouco significam em relação à erosão. Em duas regiões pode cair num ano, a mesma quantidade de chuva, não significando que a situação seja semelhante, pois, num local pode ter caído grande número de chuvas leves e, no outro, duas a três chuvas pesadas que contribuem com 60% ou 80% do total; é provável que neste último, se as demais condições são semelhantes, possa se esperar uma erosão mais severa.
A intensidade é o fator mais importante. Quanto maior a intensidade de chuva, maior a perda por erosão. Dados obtidos por SUAREZ CASTRO revelam que, para uma mesma chuva total de 21mm, uma intensidade de 7,9mm produziu uma perda de terras cem vezes maior que uma de 1mm.
A freqüência das chuvas é um fator que influi nas perdas de terras pela erosão. Se os intervalos entre elas são curtos, o teor de umidade do solo é alto, e assim as enxurradas são mais volumosas, mesmo com chuvas de menor intensidade.
Durante uma chuva muito forte, milhares de milhões de gotas de chuva golpeiam cada hectare de terreno, desprendendo as partículas da massa de solo. Muitas dessas partículas podem ser atiradas a mais de 60cm de altura e a mais de 1,5m de distância. Se o terreno está desnudo de vegetação, as gotas desprendem centenas de toneladas de partículas de solo, que são facilmente transportadas pela água.
As gotas de chuva que golpeiam o solo são um agente que contribui para o processo erosivo pelo menos por três formas:
  1. desprendem partículas de solo no local que sofre o impacto;
  2. transportam por salpicamento, as partículas desprendidas;
  3. imprimem energia em forma de turbulência, à água superficial.
A energia cinética é uma função da massa e da velocidade. Se se considerar uma gota de chuva que se desprende de uma nuvem, poder-se-ia pensar-se que está sujeita à aceleração da gravidade e que, por conseguinte, sua energia cinética é maior à medida que cai de maior altura. Elas sofrem múltiplas mudanças de forma no trajeto que percorrem. Durante os primeiros metros de queda, uma gota grande vibra entre achatamentos verticais e horizontais como uma freqüência que depende do seu tamanho. O atrito de ar e a pressão determinam uma diminuição na velocidade. Assim as gotas de chuva na queda podem alcançar uma velocidade máxima ou “velocidade terminal”, a partir da qual o movimento é uniforme; essa velocidade constante é atingida quando a resistência oposta à queda é igual ao peso do corpo menos o empuxo para cima.

Quadro 1.1. Velocidade terminal de gotas de chuva de vários diâmetros.

Diâmetro da gota de chuva
Velocidade terminal
Altura da queda com a qual a gota de água adquire 95% de sua velocidade terminal
Mm
m/s
m
1
4,0
2,2
2
6,5
5,0
3
8,1
7,2
4
8,8
7,8
5
9,1
7,6
6
9,3
7,2
Segundo WISCHMEIER & SMITH, quando todos os outros fatores, com exceção da chuva, são mantidos constantes, a perda de solo por unidade de área de um terreno desprotegido de vegetação é diretamente proporcional ao produto de duas características da chuva: energia cinética por sua intensidade máxima em 30 minutos. Essa foi a melhor correlação encontrada para expressar o potencial erosivo da chuva. HUDSON, na África subtropical, encontrou que energia cinética de chuvas individuais de intensidades de 25,4mm ou maiores foi mais estreitamente relacionada com as perdas de solo que qualquer parâmetro individual testado.

Quadro 1.2. Energia cinética da enxurrada.

Chuva
Enxurrada
Massa
Suponha a massa de queda da chuva = R
Suponha 25% de enxurrada, e a massa da enxurrada = R/4
Velocidade
Suponha uma velocidade Terminal de 8m/s
Suponha a velocidade de escorrimento na superfície de 1m/s
Energia cinética*
½ x R x (8)2 = 32R
½ x R/4 x (1)2 = R/8
* Energia cinética = ½ x massa x (velocidade)2
Fonte: Hudson
A erosão do solo é um processo de trabalho no sentido físico em que esse trabalho é o consumo de energia, em que a energia é usada em todas as fases da erosão: no rompimento dos agregados do solo, no salpicamento. A energia cinética disponível da chuva que cai em comparação com a da energia cinética da enxurrada na superfície; evidenciam que a chuva tem 256 vezes mais energia cinética que a enxurrada na superfície.
    1. INFILTRAÇÃO
A Infiltração é o movimento da água para dentro da superfície do solo. Quanto maior sua velocidade, menor a intensidade de enxurrada na superfície e, conseqüentemente, reduz-se a erosão. O movimento de água através do solo é realizado pelas forças de gravidade e de capilaridade; esse movimento através dos grandes poros, em solo saturado, é fundamentalmente pela gravidade, enquanto em um solo não saturado é principalmente pela capilaridade.
Durante uma chuva, a velocidade máxima de infiltração ocorre no começo, e usualmente decresce muito rapidamente, de acordo com alterações na estrutura da superfície do solo. Se a chuva continua, a velocidade de infiltração gradualmente aproxima de um valor mínimo, determinado pela velocidade com que a água pode entrar na camada superficial e pela velocidade com que ela pode penetrar através do perfil do solo.
O tamanho e a disposição dos espaços porosos têm a maior influência na velocidade de infiltração de um solo. Em solos arenosos, com grandes espaços porosos, pode-se esperar mais alta velocidade de infiltração que nos limosos ou argilosos, que têm relativamente menos espaços porosos. A velocidade de infiltração é também afetada pela variação na estrutura do perfil: se um solo arenoso tem logo abaixo uma camada pouco permeável de argila, pode-se esperar alta velocidade de infiltração até que a camada arenosa fique saturada, e, desse momento em diante, infiltração menor, em virtude da camada argilosa.
A umidade do solo no começo da chuva também afeta a velocidade de infiltração: o material coloidal tende a se dilatar quando molhado, reduzindo, com isso, o tamanho e o espaço poroso e, conseqüentemente, a capacidade de infiltração.
O grau de agregação do solo é outro fator que afeta a infiltração. Se as partículas mais finas são bem agregadas, os espaços porosos entre elas são maiores, proporcionando maior velocidade de infiltração. Práticas de manejo do solo que melhoram suas condições físicas e granulação reduzem a enxurrada e a erosão de grande parte das chuvas.
O preparo do solo exerce um efeito temporário ao deixar o solo solto, aumentando a infiltração; entretanto, se a superfície não está protegida com vegetação ou cobertura morta, a chuva e o vento, consolidando a superfície, reduzem a velocidade de infiltração. A aração profunda é também importante fator para aumentar a infiltração, enquanto práticas que exercem compressão no solo podem diminuí-la. O cultivo em contorno, retardando a enxurrada, favorece a infiltração.
O fator mais importante na velocidade de infiltração é a cobertura vegetal que está no solo durante a chuva. Se chuva intensa cai quando o solo não está protegido pela cobertura vegetal ou pela cobertura morta, sua camada superficial fica comprimida pelo impacto das gotas de chuva, e a infiltração é reduzida; porém, se essa chuva cai quando há boa cobertura vegetal, o solo permanece com boa permeabilidade e terá maior velocidade de infiltração.
    1. TOPOGRAFIA DO TERRENO
A topografia do terreno pela declividade e pelo comprimento dos lançantes, exerce acentuada influência sobre a erosão. O tamanho e a quantidade do material em suspensão arrastado pela água dependem da velocidade cm que ela escorre, e essa velocidade é uma resultante do comprimento do lançante e do grau de declive do terreno.
Do grau de declive dependem diretamente o volume e a velocidade das enxurradas que sobre ele escorrem. AYRES apresenta alguns princípios de hidráulica que, teoricamente, podem explicar as relações entre a velocidade da água e o seu poder erosivo: (a) a velocidade da água varia com a raiz quadrada da distância vertical que ela percorre, e a sua energia cinética, de acordo com o quadrado da velocidade; a energia cinética é a capacidade erosiva. Assim, se o declive do terreno aumenta quatro vezes, a velocidade de escorrimento da água aumenta duas vezes e a capacidade erosiva quadruplica; (b) a quantidade de material que pode ser arrastado varia com a quinta potência da velocidade de escorrimento; (c) o tamanho das partículas arrastadas varia com a sexta potência da velocidade de escorrimento.
O comprimento de rampa não é menos importante que o declive, pois à medida que o caminho percorrido vai aumentando, não somente as águas vão-se avolumando proporcionalmente como, também, a sua velocidade de escoamento vai aumentando progressivamente. Em princípio, quanto maior o comprimento de rampa, mais enxurrada se acumula, e a maior energia resultante se traduz por uma erosão maior.
    1. COBERTURA VEGETAL
A cobesrtura vegetal é a defesa natural de um terreno contra a erosão. O efeito da vegetação pode ser assim enumerado: (a) proteção direta contra o impacto das gotas de chuva; (b) dispersão da água, interceptando-a e evaporando-a antes que atinja o solo; (c) decomposição das raízes das plantas que, formando canalículos no solo, aumentam a infiltração da água; (d) melhoramento da estrutura do solo pela adição de matéria orgânica, aumentando assim sua capacidade de retenção da água; (e) diminuição da velocidade de escoamento da enxurrada pelo aumento do atrito na superfície.
Quando cai em um terreno coberto com densa vegetação, a gota de chuva se divide em inúmeras gotículas, diminuindo também, sua força de impacto. Em terreno
Descoberto, ela faz desprender e salpicar as partículas de solo, que são facilmente transportadas pela água.
A vegetação, ao decompor-se, aumenta o conteúdo de matéria orgânica e de húmus do solo, melhorando-lhe a porosidade e a capacidade de retenção de água.
Quadro 1.3. Efeito do tipo de uso do solo sobre as perdas por erosão. Médias ponderadas para três tipos de solo do Estado de São Paulo.
Tipo de uso
Perdas de solo
Perdas de água
t/ha
% da chuva
Mata
0,004
0,7
Pastagem
0,4
0,7
Cafezal
0,9
1,1
Algodoal
26,6
7,2
A vegetação também tem parte importante na erosão eólica, reduzindo a velocidade do vento na superfície do solo e absorvendo a maior parte da força exercida por ele. Aprisionando as partículas de solo, a vegetação previne a formação de nuvens de areia e impede que tais partículas sejam carregadas pelo vento. A vegetação é mais eficiente, porém, se os restos culturais estão bem fixados no solo, é benéfica na redução da erosão eólica.
    1. NATUREZA DO SOLO
A erosão não é a mesma em todos os solos. As propriedades físicas, principalmente estrutura, textura, permeabilidade e densidade, assim como as características químicas e biológicas do solo exercem diferentes influências na erosão.
Suas condições físicas e químicas, ao conferir maior ou menor resistência à ação das águas, tipificam o comportamento de cada solo exposto a condições semelhantes de topografia, chuva e cobertura vegetal.
A textura, ou seja, o tamanho das partículas, é um dos fatores que influem na maior ou menor quantidade de solo arrastado pela erosão. Assim, por exemplo, o solo arenoso, com espaços porosos grandes, durante uma chuva de pouca intensidade, pode absorver toda água, não havendo, portanto, nenhum dano; entretanto, como possui baixa proporção de partículas argilosas que atuam como uma ligação de partículas grandes, pequena quantidade de enxurrada que escorre na sua superfície pode arrastar grande quantidade de solo. Já no solo argiloso, com espaços porosos bem menores, a penetração da água é reduzida, escorrendo mais na superfície; entretanto, a força de coesão das partículas é maior, o que faz aumentar a resistência à erosão.
A estrutura, ou seja, o modo como se arranjam às partículas de solo, também é de grande importância na quantidade de solo arrastado na erosão.
A matéria orgânica retém de duas a três vezes o seu peso em água, aumentando assim a infiltração, do que resulta uma diminuição nas perdas por erosão. A profundidade do solo e as características do subsolo contribuem para a capacidade de armazenamento da água no solo que esse mesmo solo com um subsolo mais compacto e pouco permeável.
  1. Distribuição racional dos caminhos. O traçado usual dos caminhos em linha reta, desconsiderando a topografia do terreno, tem sido a causa do prejuízo devido às perdas por erosão. Com a disposição correta dos carreadores, as curvas quase sempre ficam com as ruas a favor das águas, aumentando assim, as perdas por erosão e dificultando a adoção de futuras práticas de controle.
A distribuição racional dos caminhos é colocá-los, ao máximo, próximo do contorno. Os carreadores em pendente, que fazem a ligação entre os nivelados, serão no menor número possível, em locados nos espigões e meios de grotas onde também será mais fácil a localização dos canais escoadouros. Os talhões ficarão de forma alongada e recurvada no sentido das linhas do terreno.
Ao projetar os caminhos em contorno, deve-se Ter o cuidado de que o intervalo entre eles seja um múltiplo de afastamento entre terraços ou cordões em contorno, a fim de facilitar a distribuição dessas praticas no seu intervalo. Os caminhos em contorno funcionam, como verdadeiros terraços ajustando a defender as curvas contra a erosão.
Esse sistema racional de distribuição de caminhos forma um arcabouço estável da propriedade agrícola e é básico para a adoção de práticas que se fundamentam no alimento em contorno, proporcionando, também, a redução das perdas por erosão.
  1. Plantio em contorno. O plantio em contorno consiste em dispor as fileiras de plantas e executar todas as operações de cultivo no sentido transversal à pendente, em culturas de nível ou linhas em contorno. Uma linha de nível é aquela em que cujos pontos estão todos na mesma altura do terreno.
Ao se cultivar em contorno, cada fileira de planta, assim com os pequenos sulcos e camalhões de terra que as máquinas de preparo e cultivo do solo deixam na superfície do terreno, constituem um obstáculo que se opõe ao percurso livre da enxurrada, diminuindo a velocidade e capacidade de arrastamento.
Todas as opções em contorno são feitas em nível. Em pequenas áreas, de declividade uniforme, uma única linha básica pode ser necessária, entretanto, em áreas grandes, ou de topografia irregular, varias linhas básicas são exigidas, a fim de que as operações de cultivo sejam feitas próximo ao nível.
Quando o plantio em contorno é usado sozinho, sem nenhuma outra prática, em terrenos de topografias acidentadas, ou em regiões de chuva intensas, ou em solos de grande erodibilidade, há um aumento do risco de formação de sulcas de erosão, porque as pequenas leiras rompendo-se, podem soltar a água que estava acumulada, e o volume de enxurrada, aumentando em cada leira sucessiva, causa um prejuízo acumulativo.
Dentre as práticas simples, o plantio em contorno é a que, além de constituir uma medida de controle de erosão, proporciona maior facilidade e eficiência no estabelecimento de outras práticas complementares baseadas na orientação em contorno. A formação das lavouras em contorno deverá constituir a preocupação fundamental de nossos lavradores.
  1. Terraceamento. É uma das práticas mais eficientes para controlar a erosão nas terras cultivadas. A palavra terraço é usada, em geral, para significar camalhão ou a combinação de camalhão e canal, construído em corte da linha de maior declividade do terreno.
O terraceamento em terras cultivadas é sempre combinado com o plantio em contorno: pelo seu alto custo, é recomendado onde outras práticas, simples ou combinadas, não proporcionam o necessário controle da erosão. A principal função do terraço e diminuir o comprimento das lançantes, reduzindo, assim, a formação do sulco nas regiões de altas precipitações e retendo mais água em zonas mais secas.
Nem todos os solos e declives podem ser terraceados com êxito. Nos pregados ou muito rasos, com subsolo adensado, é muito dispendioso e difícil manter um sistema de terraceamento. As dificuldades de construção e manutenção aumenta à medida que cresce a declividade do terreno.
O terraceamento, quando bem planejado e bem construído, reduz a perda de solo e de água e previne a formação de sulcos e grotas, sendo mais eficiente quando usado em combinação com outras práticas, como o plantio em contorno, cobertura morta e culturas em faixas; após vários anos, seu efeito se pode notar nas melhore produções das culturas, divido à conservação do solo e da água.
A declividade do terreno é que determina a praticabilidade do terraceamento, uma vez que a erosão aumenta com o grau do declive o terreno a tal ponto que esse fator pode torná-lo desaconselhável.
Há diversos tipos de terraços: o Mangum, o Nichols, o de base larga, o e base estreita, o patamar, e o individual. O terraço tipo Mangum é construído pelos dois lados do terreno, dando assim um terraço com um camalhão mais alto: é o tipo adaptado para a conservação da água. O terraço Nichols é desenvolvido com a movimentação do solo unicamente do lado de cima do terreno, com a desvantagem de não poder ser aproveitado para o cultivo a faixa destinada ao canal. O terraço de base larga, cujas características são de ser bastante largos, rasos, de suave inclinação, é o mais comum, podendo ser facilmente cruzado por máquinas agrícolas e permitindo o plantio em todas as direções. O terraço de base estreita – combinação de valetas e leiras de pequenas dimensões – é bastante utilizado na produção de culturas perenes; os cafeicultores o denominam de “cordão - em - contorno”. O terraço patamar consiste em plataformas construídas em terrenos de grande inclinação, formando uma espécie de degraus. O individual, pequeno patamar circular constituído ao redor da cada árvore, é também usado em terreno de grande inclinação. A figura 8.6 apresenta, esquematicamente, os tipos de terraço.
Os terraços Mangum e Nichols foram mencionados por representar, além de uma forma de construção, o início da evolução dos terraços de base larga, que são, na realidade, os verdadeiros terraços.
O terraço de base larga. É uma das formas mais seguras de proteção do solo contra os efeitos da erosão, podendo ser empregados tanto em culturas anuais como perenes, e até mesmo em pastagens.
Terraço de base largatem a grande vantagem de não perder área de cultivo anual que está protegendo; todo o terraço, inclusive a faixa ocupada pelo camalhão e pelo canal do terraço, pode ser plantado com uma única cultura. No caso de culturas perenes, os terraços têm que ser construídos previamente ao plantio, uma vez que, depois de formada a plantação, fica difícil o emprego de equipamentos para a sua construção e nem sempre há espaço suficiente entre as árvores para comportar sua largura.
Esse terraço pode ser usado, também, em pastagens, para a proteção de áreas suscetíveis à erosão, ou então para proteção do terreno durante o período de formação da pastagem, enquanto a vegetação ainda não está bem estabelecida nem dando a proteção suficiente; em regiões de pouca precipitação, ele á adotado em pastagens para proporcionar um sistema de distribuição mais uniforme da água das chuvas.
Em geral esse tipo de terraço é indicado para terrenos de até 12% de declividade; em alguns solos de boa permeabilidade, porém, pode ser utilizado em terrenos com declividade, como 0,5%, cuja topografia, porém, seja formadas de grandes lançantes, com a finalidade de reduzir a erosão produzida por grandes concentrações de enxurradas.
É bastante difícil construir um sistema de terraço de base larga em terreno com topografia irregular; as curvas que se forma são muito estreitas, dificultando a manejo de máquinas, e o espaçamento entre os terraços seria muito variável, dando, em conseqüência, muitas “ruas mortas”.
Terraço de base estreita. Os terraços de base estreia, estruturas mecânicas utilizadas especialmente em terrenos de maior declividade, quando não é possível construir terraço de base larga, são os mais indicados para proteção de culturas perenes do tipo pomares, cafezal, cacaual. São também denominados “cordões – em – contorno” e em alguns lugares recebem a descrição de “curvas de nível”. Em virtude de sua pequena largura, podem ser construídos por entre as árvores já formadas, ao longo das curvas de nível do terreno, mesmo que a cultura seja formada em esquadro.
Esses terraços não são recomendados para culturas anuais, pois a forte inclinação dos taludes do camalhão e da valeta dificultam o cruzamento das máquinas nos tratos da cultura e impede o cultivo na sua faixa. Podem, todavia, ser empregados em terrenos de topografia mais acidentada, com inclinações às vezes até de cerca de 40 %.
Os conceitos emitidos para os terraços de base larga podem servir, também, para os de base estreita. O gradiente, por exemplo, pode ser em o mesmo; nos terrenos francamente permeáveis, como são em geral os latossolos roxos, os cordões em contorno poderão ser locados em nível para retenção das águas de chuva.
No caso dos terraços de base estreita com cimento constante ou progressivo, há necessidade de limitar o comprimento dos cordões, a fim de evitar transbordamento ao longo da valeta; para os cordões em nível, praticamente não há limite para o comprimento.
A construção dos terraços de base estreita pode ser feita unicamente com instrumentos manuais ou, também, com o auxilio de equipamento simples como o arado, como se pode ver nas etapas de construção apresentadas na figura 8.19.
Em virtude das dimensões dos terraços de base estreita, tal cordão em contorno pode ser construído nas culturas já formado, mesmo que elas sejam dispostas em esquadro.
Terraço-patamar. São estruturas utilizadas em terrenos muito inclinados, para proteção de culturas muito pequenas de grande valor, como pomares, vinhedos e mesmo cafezais. É uma prática muito antiga para a conservação do solo de regiões montanhosas; os incas construíram extensos sistemas de patamares nas escarpadas regiões andinas onde habitaram, os quais até hoje se conservam e se utilizam.
O grande inconveniente desse terraço, reduzindo-lhe a aplicação, é o seu elevado custo de construção. Sua utilização se restringe a regiões com grande densidade de população e que não tenham terras planas, justificando a inversão de grande quantidade de trabalho para formar os patamares.
Os terraços-patamar se adaptam a terrenos com declividade acima de 20% e se caracterizam por apresentar, depois de prontos, um verdadeiro banco, ligeiramente inclinado para o lado de dentro do barranco.
Tais terraços, além de controlarem eficientemente a erosão, contribuem para melhor conservação das águas de chuva, facilitam os trabalhos de colheita, as operações culturas e o acesso às plantas, e evitam que os adubos sejam arrastados pela enxurrada.
  1. Sulcos e camalhões em pastagem. Os sulcos e camalhões em contorno, uma das práticas mais eficientes na retenção das águas de chuva em pastagem, são especialmente recomendados para regiões de chuva escassas.

Embora a cobertura do solo com pastagens já constitua eficiente maneira de reduzir as perdas por erosão, há em alguns casos, necessidade de medidas complementares de controle da erosão; por exemplo, nas pastagens em formação, onde a vegetação ainda não esteja proporcionando uma cobertura eficiente, e nos terrenos muito inclinado ou dos pastos fracos e excessivamente pastoreados.

A grande vantagem dos sulcos e camalhões é a melhor distribuição e retenção das águas das chuvas. Em conseqüência da melhor conservação da água, a vegetação torna-se mais densa e mais vigorosa nas proximidades dos sulcos e dos camalhões. Os sulcos e camalhões concitem em uma combinação de um pequeno canal com um pequeno dique de terra: são executados nas pastagens, depois de uma marcação prévia e contorno, com os arados reversíveis, de aiveca ou de disco, passados uma ou duas vezes o mesmo sulco jogando a terra sempre para o lado de baixo.
Para a marcação do sulco e camalhões , locar linhas niveladas básicas distanciadas cerca de trinta metros, e que servirão de linhas-base de marcação. Sobre elas, tirar as linhas paralelas, de preferência de baixo para cima das linhas-guia: ai serão feitos os sulcos e camalhões, cujo espaçamento depende das características de infiltração de movimento da água no solo; do custo da construção; da necessidade de maior ou menor concentração da água, podendo variar de um a dez metros, sendo, porém, o mais comum, em nossas condições, 3 metros.
Não deve haver preocupação de reter toda a água da chuva caída, pois enxurrada em excesso pode derramar sobre os camalhões nos pontos mais baixos, porém a vegetação da pastagem deverá reter alguma terra deslocada.
  1. Canais escoadouros. Quando são usados no terreno sistemas de terraceamento com gradientes, para proporcionar a drenagem segura dos excessos de enxurrada é necessário o estabelecimento de canais escoadouros: são canais de dimensões apropriadas, vegetados, capazes de transportar com segurança a enxurrada de um terreno dos vários sistemas de terraceamento ou outras estruturas.
O canal escoadouro vegetado é uma das práticas básicas das mais importantes no planejamento conservacionista de uma área agrícola quando a chuva excede a capacidade infiltração de um solo, um excesso de água passa sobre a superfície do terreno e forma enxurradauma vez que o sucesso de qualquer programa de conservação do solo depende da remoção desse excesso de enxurrada, sem comprometer o risco de erosão, o estabelecimento de canais escoadouros vegetados deve ser bem planejado.
Em alguns tipos de solos bastante permeáveis como latossolos roxo, consegue-se, às vezes, dispensar com segurança estes canais , mediante o emprego de práticas mecânicas (como terraceamento em nível) e vegetativas que produzem quase uma retenção completa de águas de chuva. Canais escoadouros, em geral , as depressões no terreno, rasas e largas, em declividade, e estabelecidos com leito resistente à erosão. Sua melhor localização é a depressão natural, para onde as águas são forçadas a escorrer, bem como nos espigões, divisas naturais e caminhos.
Os canis escoadouros podem ser construídos com as seguintes sessões: triangular, parabolóide, e trapezoidal. Para as declividades mais acentuadas é trapezoidal, cujo fundo chato, extraindo a lâmina da água, diminui a velocidade de escoamento da enxurrada; a triangular é indicada para as declividades menores, em que o fundo em V, concentrando as águas, impede a deposição de sedimentos; a parabolóide é indicada para declividade intermediária.
A vegetação do canal escoadouro deve ser escolhida de modo a suportar a velocidade de escoamento de enxurrada, não ser praga para as terras de cultura e , se possível, ser utilizada como forragem. Varias são as espécies indicadas: entre as gramas, as melhores são a batatais (Paspalum notatum Flügge), a tapete (Axonopus compressus Swartz-Beauv.), a das rochas (Paspalum dilatatum Poir), a inglesa (Stenotaphrum secundatum Walt-kuntze) e a seda (Cynodon dactylon (L.) Pers.); entre os capins os mais recomendados são: o quicuio (Pennisetum clandestinum Hochst.), o gengibre (Paspalum maritinum Trin.) e o rodes (Chloris gayana Kunth.); do grupo de leguminosas as que melhor se prestam para revestimento de canais escoadouros, destacam-se: o cudzu comum (Pueraria thumbergiana Benth..), o cudzo-tropical (Pueraria phaseoloides Benth.) e a centosema (Centrosema pubescens Bent.).
Os limites de velocidade com que a enxurrada pode escorrer sem perigo de provocar escoriações e solapamentos no fundo do canal depende da vegetação empregada no seu revestimento. As vegetações ideais são aquelas que cobrem e travam completamente o solo num emaranhado de raízes e caules.
A vazão máxima de enxurrada espera da área a ser servida pelo canal escoadouro é o fator principal na determinação das suas dimensões; essa vazão é o volume de água por unidade de tempo capaz de escorrer da área quando da ocorrência das máximas intensidades de chuva e com duração suficiente para fazer com que todos os pontos da bacia contribuam com a enxurrada formada.
As dimensões dos canais escoadouros, ou seja, a largura e a produtividade, dependem da produtividade, da forma da seção, da velocidade média permissível e da vazão máxima esperada de enxurrada. Conhecidos esses fatores, tais equações são determinadas com o auxilio das formulas apresentadas de cálculo de vazão em canais, ou de ábacos, para encontrá-las com mais facilidade.
A construção dos canais escoadouros devem anteceder, de cerca de um ano, a construção de terraços ou outras práticas de que resulte concentração de enxurradas, afim do que haja consolidação e estabelecimento da vegetação.
  • Controle de voçorocas
A voçoroca é a visão impressionante do fenômeno da erosão, muitas vezes usadas pelos conservacionistas como um sistema característico; deve-se , porem, ter o cuidado de não superestimá-la. Naturalmente, essa forma de erosão é muito importante como uma fonte de sedimentos nos córregos, porem, em termos de prejuízos para as terras agrícolas ou redução da produção das lavouras, geralmente não é muito importante, uma vez que a maioria das terras sujeitas a esse tipo de erosão são de pouca significância agrícola.
O controle da voçoroca, além de difícil é muito caro podendo der mais elevado do que o próprio valor da terra. Naturalmente deve-se fazer alguma coisa, principalmente pela sedimentação dos córregos e barragens. É essencial, toda via, efetuar as medidas de controle das voçorocas para prevenir-lhes a formação.
Seu controle é realizado com estes objetivos: 1-intercepção da enxurrada a cima da área de voçorocas , com terraços de diversão; 2-retenção na área de drenagem, por meio da pratica de cultivo de vegetação e estruturas especificas; 3-eliminação das grotas e voçorocas, com acertos do terreno executados com grandes equipamentos de movimentação da terra; 4-vegetação da área 5-construção de estruturas para obter a velocidades das áreas ou ate mesmo armazená-las 6-completa exclusão do gado; 7- controle das sedimentação das grotas e voçorocas ativas.
Qualquer outra medida de controle de voçoroca depende da cobertura vegetal para estabilizar o solo exposto a enxurrada excessiva muitas das áreas sulcadas ou que tenha grotas ou voçorocas, porem, não estão em boas condições para um crescimento da vegetação, pelos motivos seguintes: a declividade é alta e a superfície do solo foi desgastada e sofreu enormes impactos das grotas de chuva que produziram condições adversas à sobrevivência das plantas.
Uma voçoroca estabilizada pode servir com um canal escoadouro vegetado para descarga de enxurrada dos terraços, um habitat para a fauna, uma área reflorestada ou mesmo para pastagem. Se for usado com canal escoadouro, a grota devera Ter a sua seção de tamanho e proporção adequada, e a vegetação escolhida deverá ser bem resistente à erosão.
Nas área com grotas onde a erosão é menos crítica, consegue-se, um bom resultado, com menos gasto, cercando a área para evitar o pastoreio e cultivo.
A eliminação de grotas ou e áreas criticas com grotas pelo acerto do terreno, preenchendo as valas, pode ser prático e possível desenvolvendo canais escoadouros vegetados com forma tal que tenham velocidades estáveis e outras características hidráulicas. Durante o processo de enchimento das valas, a terra deverá ser compactada para oferecer melhor resistência à erosão.
O controle da voçoroca pelo desvio da enxurrada ou pela maior retenção da água é o mais eficiente, e onde esse método for possível deverá ser instalado antes de qualquer tratamento dentro da voçoroca. Os canais de diversão deverão ser construídos na parede de cima da voçoroca, a 20-30 metros da sua cabeceira de modo que o barranco superior da voçoroca fique bem estabilizado. A retenção da água é conseguida pelo uso adequado de solo como pratica de cultivo que aumenta sua infiltração no solo, com terraceamento em nível, ou com a construção de pequenas barragens de terra ou de outro material.
Nem sempre é possível manter a enxurrada fora da voçoroca pelo desvio ou pela maior retenção da água, devendo ela escorrer dentro da grota. Para que o faça com segurança, construir estruturas e estabelecer boa cobertura vegetal. É necessário que o gradiente do canal seja reduzido de maneira que a enxurrada possa escorrer a uma velocidade não erosiva.

Postagens populares